terça-feira, 23 de junho de 2009

DELEGAÇÃO DE HAITIANOS EM PERNAMBUCO PELA RETIRADA DAS TROPAS BRASILEIRAS

Ontem (22) a Conlutas Pernambuco realizou um atividade no auditório do MTC junto ao companheiro Haitiano Frantz Dupuche, Membro da Plataforma Haitiana em Defesa de um Desenvolvimento Alternativo (PAPDA), em visita ao Estado como parte da Campanha pela Retirada das Tropas Brasileiras de seu país. O debate contou com a presença de militantes compromissados em levar à frente essa luta que completa 5 anos esse mês, desde a presença das tropas que reprime a população a mando da Organização das Nações Unidas.

Além de Frantz Dupuche, o companheira Carole Pierre Paul-Jacob, dirigente da organização Solidariedade das Mulheres Haitianas (SOFA) e Didier Dominique, membro da Central Sindical Popular Batay Ouvriyer estão no país para divulgar a Campanha. Já visitaram Natal, Brasília e tem o objetivo de percorrer todos os principais Estados do Brasil pra denunciar a dura realidade da população Haitiana.

Além do debate Franz Dupuche participou da Assembléia dos Metroviários e dos trabalhadores da Saúde, ambos em Greve. Também, visitou a imprensa local junto ao jornalista haitiano e então estudante de Serviço Social da UFPE Frank Seguy, alem de Jair Pedro da Conlutas PE e Macos Roberto, direto do Sintect-PE.
Abaixo, matérias veiculadas no Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio:

Matéria no Jornal do Commercio - Cotidiano - 22/06/2009

Pernambuco // Denúncia

Campanha promovida por haitianos pede fim da presença de militares brasileiros no país

Publicado em 22.06.2009, às 20h19

Verônica Falcão Do Jornal do Commercio










Os haitianos Frantz Dupuche e Franck Seguy participam da campanha
Foto: Alexandre Severo/JC Imagem

Comissão de haitianos que percorre o Brasil pedindo o fim da missão de paz no país centro-americano esteve nesta segunda-feira (22) no Recife para divulgar a campanha. O grupo, formado por três pessoas, denuncia arbitrariedades das tropas brasileiras que comandam o trabalho das Nações Unidas no Haiti. “Nossa nação não está em guerra. Os soldados estão lá para reprimir manifestações do povo contra a classe dominante. Estão fazendo lá o que não fazem no Brasil”, diz o professor de matemática Frantz Dupuche.

Uma das últimas manifestações em que o Exército brasileiro usou de força para coibir foi contra o salário mínimo, duas semanas atrás. “A jornada diária custa US$ 2. O povo foi às ruas fazer um protesto e foi coibido à bala no meio da rua. Muitas pessoas ficaram feridas. O número de mortos não sabemos. O governo nunca divulga”, afirma Dupuche.

A missão começou o trabalho dia 16, com audiência pública no Senado, em Brasília. Antes de fazer a divulgação no Recife, Dupuche visitou Belém e Natal. As próxima capitais serão Fortaleza, São Luís e São Paulo. Além do matemático, integram o grupo Carole Jacob Pierre Paul e Didier Dominique. A viagem do grupo se encerra no dia 27 de junho, quando retornarão ao país, em conflito interno desde os anos 90.

O haitiano Franck Seguy, estudante de serviço social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) que acompanha Dupuche na visita ao Recife, reclama da atuação das tropas brasileiras. “Depois da chegada dos soldados brasileiros há mais sequestros e mais violência. O era estabilizar o país mas a interferência está sendo negativa”, avalia.

São nove mil soldados a serviço das Nações Unidas no Haiti. A maior tropa, com de 1.500 a 2 mil integrantes, é a brasileira. Todos os países da América do Sul têm representantes, menos Venezuela e Cuba. Na opinião de Seguy, o Brasil contribuiria mais com o Haiti se firmasse acordos de colaboração nas áreas de saúde e educação.

“A ONU está usando o Brasil. Os haitianos admiram o povo brasileiro por causa do futebol e por acreditar que não há discriminação racial aqui. Somos uma nação predominantemente negra. Se as tropas fossem os Estados Unidos haveria reação. As tropas do Brasil aceitaram ser massa de manobra das Nações Unidas para ter mais chances de conseguir acento no Conselho de Segurança da ONU”, denuncia o estudante de serviço social.

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Defesa, mas não teve resposta.
Minustah // Haitianos contra tropas estrangeiras
A presença das tropas da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah) tem dividido opiniões. Em visita ao Brasil, uma delegação de haitianos denuncia que os militares estrangeiros se desviaram do objetivo principal - que era obter a paz -, passando a repreender movimentos sociais, praticar sequestros e violência sexual contra mulheres e crianças.
Composta de três pessoas, a delegação já esteve no Congresso Nacional, em Brasília, mas se divide até o próximo sábado para visitar outros estados. Um dos integrantes visitou o Diario, ontem, acompanhado do jornalista haitiano Franck Seguy e de dois representantes da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas). Membro da Plataforma Haitiana em Defesa de um Desenvolvimento Alternativo (PAPDA), o professor universitário Frantz Dupuche argumenta que o governo brasileiro desperdiça recursos, já que enviou 1.500 soldados para o Haiti, cada um ao custo de US$ 60 mil ao ano.

Segundo Frantz, um trabalhador do Haiti recebe US$ 2 por oito horas de trabalho, menos de R$ 4 por dia, e não pode mais reivindicar os direitos, ou fazer protestos, sob o risco de ser morto a tiros das tropas da Minustah. Frantz veio ao Brasil ao lado de Carole Pierre Paul-Jacob, dirigente da organização Solidariedade das Mulheres Haitianas (SOFA) e de Didier Dominique, membro da Central Sindical Popular Batay Ouvriyer. Os três querem sensibilizar o governo brasileiro, que comanda a missão, para deixar o Haiti.

"O atual presidente, René Préval, foi eleito em 2006 pelas tropas e não pelo povo", protestou Frantz. "Ele só conseguiu 49% dos votos e teve apoio da Minustah para assumir o governo. Todos os votos em branco foram contabilizados a seu favor", lembrou Frantz, lamentando que houve 33 candidatos concorrendo à presidência do Haiti naquele ano, mas nenhum representou os trabalhadores.

O professor ressaltou que o Haiti é três vezes menor que Pernambuco e abriga, atualmente, nove mil soldados da Minustah, todos de países latino-americanos. Ele contou, inclusive, que 108 mulheres foram violentas por soldados, que ficaram impunes, porque as leis haitianas não têm poderes sobre as tropas. O jornalista Seguy acrescentou que há casos de sequestros no Haiti, onde o resgaste está sendo feito por soldados da própria Minustah.